Estabelecido em definitivo o culto no Brasil, outras manifestações de OSUN podem ser verificadas nos tradicionais terreiros ou roças de candomblé. Enquanto na África, as diferentes manifestações são consideradas como caminhos percorridos por OSUN como uma única entidade, no Brasil considera-se cada "qualidade" como sendo um orixá diferente e assim, OSUN deixa de ser uma só e diferentes OSUNS, componentes de uma grande família serão cultuadas de acordo com cada diferente qualidade. Desta forma, OSUN IJIMÚ, considerada a rainha de todas as Osuns está ligada ao aspecto de YAMÍ AJÉ, ostentando, por isto, o título de Yalode. OSUN AYALÁ teria sido mulher de Ogun com quem trabalhava na forja, acionando o fole para atiçar as brasas. Conta a lenda que o fole acionado por OSUN AYALÁ produzia um som ritmado e muito agradável. Atraído por este som, Egun pôs-se a dançar diante da ferramentaria, atraindo um grande número de assistentes que por ali passavam. Encantados com o bailado de Egun os passantes lhe fizeram muitas oferendas de dinheiro, o que o deixou feliz e vaidoso. Ao saber que Egun estava ganhando dinheiro com sua apresentação, OSUN exigiu que metade da renda obtida fosse dividida com ela, caso contrário, não acionaria mais o fole que produzia o ritmo sem o qual Egun não poderia mais dançar. Sem alternativas, Egun teve que aceitar a exigência da Yagbá passando, a partir de então, a dividir com ela tudo o que ganhava em suas apresentações. Esta OSUN além de sua ligação com Ogun Alagbede tem sérios fundamentos com Egun. OSUN ABALÚ, também conhecida como OSUN ABOTÔ é considerada como sendo a mais velha de todas. É muito ciumenta e adora receber hortênsias como oferenda. Sua ligação com OMOLÚ, o orixá da peste, tido como o médico dos pobres, é notável e segundo dizem, acompanha este orixá em suas andanças pelos quatro cantos do mundo. OSUN IPETÚ é a guardiã dos segredos insondáveis. Sobre esta OSUN pouco se sabe e nada se fala. A simples pronúncia de seu nome é revestida de muito respeito e considerada quase como um tabu. OSUN POPOLOKUN, também revestida de uma enorme aura de mistério, é cultuada em lagoas de águas profundas, onde estabelece a sua residência. Conta a lenda que esta Osun costuma aprisionar em seu reino aqueles que se aventuram a mergulhar em suas águas. OSUN OPÀRÀ é a poderosa guerreira que acompanha Ogun em suas campanhas, porta um sabre que manipula com força e destreza. Esta OSUN tem fundamento com YEMOJÁ, de quem é filha e com quem costuma comer. Da mesma forma que Opàrà, OSUN IPONDÁ é guerreira e dona de caráter irascível. Esta OSUN costuma formar, junto com Oyá, uma dupla de combatentes invencíveis. Existe assim uma OSUN denominada Yéyé Oloko, que habita nos mananciais d’água existentes no interior das florestas mantendo ligações fundamentais com Oxóssi e Ossain. Como vimos, OSUN representa a feminilidade em todos os seus diferentes aspectos. Seu charme e inteligência proporcionaram-lhe a possibilidade de ter sido, por escolha própria, esposa de inúmeros Orixás, com exceção de Obàtàlá, de quem seria a filha dileta e de Esu, com quem sempre manteve uma relação de amizade fraternal e cumplicidade. Como esposa de Orunmilá - Senhor e Patrono do Oráculo de Ifá – Osun recebe o título de primeira Apetebí, dado até hoje às sacerdotisas do culto de Orunmilá e às esposas de seus sacerdotes, os Bàbálawos. Uma lenda narra de que forma Osun, com o auxílio de Exu, roubou o segredo dos 16 signos do Sistema Oracular de Ifá, os 16 Odu-Meji, criando com isto um novo sistema divinatório, o jogo de búzios, MERINDILOGUN, proporcionando condições para que as mulheres pudessem proceder à adivinhação, o que anteriormente era exclusividade dos homens. Dentre as figuras do oráculo, destacamos o Odú Ose Meji, através do qual Osun se comunica com os seres humanos. Uma outra lenda, ressaltando a astúcia de Osun, narra que Xangô o poderoso Orixá do trovão possuía três esposas, Oyá, Obá e Osun, sendo que a última era a sua favorita. Ansiosa por receber maiores atenções do marido, Obá pediu que Osun lhe ensinasse o feitiço que havia feito para conquistar o coração de Xangô. Ardilosa e maldosamente a bela senhora orientou a concorrente para que cortasse uma de suas orelhas e que a servisse depois de cozida, como alimento ao marido. Obá, acreditando na sinceridade de Osun, não hesitou em decepar a própria orelha e com ela preparar um belo prato, de acordo com o gosto de Xangô. Ao deparar-se com o alimento que a mulher lhe servia, Xangô, indignado, expulsou Obá do palácio real, terminado assim, com qualquer possibilidade de um dia vir a ser a sua favorita. A partir de então, Obá e Osun tornaram-se inimigas irreconciliáveis, Em outra ocasião, Osun apaixona-se por Oxóssi que vinha diariamente banhar-se nas águas do rio, no local exato em que ela morava. De todas as formas, tentava atrair o caçador para dentro do rio onde pretendia entregar-se a ele. Oxóssi, que não sabia nadar, embora atraído pela beleza de Osun, não ousava arriscar-se na correnteza e, desta forma, o ato de amor não se consumava. Enlouquecida pela paixão, Osun arquitetou um plano e fez com que Oxóssi comesse uma iguaria preparada à base de mel de abelhas. Esu foi encarregado de entregar à Oxóssi o doce feito por Osun e, desta forma, após comer a deliciosa torta, Oxóssi, enfeitiçado, perdeu o sentido de perigo e, atirando-se às águas, deixou-se levar pelos encantos da bela senhora. Satisfeita em seu desejo, Osun simplesmente abandonou o amante ao sabor da corrente e Oxóssi, sem saber nadar, sucumbiu, tragado que foi pelas águas do rio. Desta união, nasceu Logunedé, Orixá menino, que possui características do pai, atuando como caçador e vivendo dentro das matas durante certo período e, noutro período, assumindo as características de sua mãe, vive da pesca e reside nas águas do rio. O culto à Osun se destaca por características próprias e é na cadência do ritmo Ijexá que ela se apresenta, espargindo o perfume da água-de-cheiro, dançando de forma sensual e maliciosa, envolvendo a todos na magia do bailado onde exalta todos os seus aspectos de deusa-mulher e contagiando de tal forma os presentes que, repentinamente, todos agitam os próprios corpos ao som irresistível dos atabaques, gans, agogôs e afoxés, como crianças embaladas pela magia dos cânticos da Grande Mãe. Esta é Osun, a Deusa do Amor, a Senhora do Ouro e do Mel, a Rainha das Águas Doces, dos Rios e das Cachoeiras. Esta é Osun, a Vênus Negra, nossa Mãe Transcendental, a quem saudamos efusiva e respeitosamente: Ore Yeye ô!